Relembre o histórico de tragédias da Penitenciária GABRIEL FERREIRA CASTILHO

Em outubro de 2002, numa tentativa frustrada de fuga, seguida de rebelião, com reféns, um informe revelou que o armamento usado pelos presos teria sido repassado para eles nos fardos de comida e carne in natura que entravam para a cozinha da unidade prisional onde preparavam a própria refeição.

Entre as 10 (dez) unidades prisionais contempladas pelo projeto de instalação de cozinha e “refeitório humanizado”, destaca-se a Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho (Bangu 3B). Com extenso histórico de rebeliões e mortes, a Unidade é um verdadeiro barril de pólvora que abriga as principais lideranças da facção criminosa Comando Vermelho. Atualmente, possui efetivo carcerário de 990 presos e média de 5 (cinco) policiais penais por turma de plantão.

O cenário do interior das celas é de buracos feitos pelos presos, nas paredes e pisos, para esconder materiais ilícitos antes de passá-los para outras celas e galerias. Munições de fuzil cal. 5.56 foram encontradas enterradas no piso da galeria B6, e, ainda hoje, persiste a suspeita de fuzis desmontados dentro das celas.

Em 2002, o Serviço de Inteligência teria descoberto a existência de um túnel em Bangu III, cavado pelos presos para fuga. Seguiu-se um intenso trabalho de busca diária dentro da Unidade Prisional. À época, O diretor do Departamento do Sistema Penitenciário (Desipe), Hugo Freire, teria afirmado que essa busca pode ter precipitado a tentativa de fuga dos presos.

Na ocasião, após negociação e libertação dos reféns, foram entregues 06 (seis) fuzis AR-15, pelos presos. Foram apreendidos, também, aproximadamente, 05 (cinco) quilos de explosivos C4, 05 (cinco) pistolas e 03 (três) granadas.

 

Em dezembro de 2003, presos da Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho (Bangu III) fizeram uma rebelião de 75 horas, a mais longa da história do Rio. Os amotinados trocaram tiros com os agentes penitenciários e fizeram ao menos 47 (quarenta e sete) reféns. Ao final da rebelião os presos entregaram 03 (três) fuzis. Outros dois foram encontrados escondidos na parede da galeria. Algum tempo depois, foram encontrados mais dois fuzis na porta do frigorífico da cozinha que já estava desativada na Unidade Prisional. Três policiais foram baleados, e o agente Luís Cláudio Lima Bonfim foi morto no confronto. Armas e drogas foram encontradas na cantina, que desde então foi proibida pela Justiça de funcionar na Unidade Prisional.

Entre 2003 e 2008, três servidores da penitenciária foram assassinados; o diretor da unidade, Abel Silvério, foi morto com dez tiros dentro de seu carro, na Avenida Brasil, altura da Vila Kennedy; em dezembro de 2005, o então chefe da segurança de Bangu 3, Henrique Fernandes da Silva, foi executado no quintal de casa, em Bangu. Três anos mais tarde, o diretor da penitenciária à época, tenente-coronel José Roberto do Amaral Lourenço, foi assassinado, também na Avenida Brasil, na altura de Deodoro.

A Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho é uma unidade de extrema periculosidade dado o poder financeiro e coercitivo dos presos. Muitas foram as vidas de policiais penais daquela Unidade Prisional que foram ceifadas pelo crime. Como imaginar presos de tamanha periculosidade soltos ao mesmo tempo, sentados num refeitório para café, almoço, lanche e jantar?

A penitenciária não oferece estrutura de trabalho para os policiais penais, tampouco efetivo funcional capaz de operacionalizar uma ação dessa monta. Não há inspetor de polícia penal sequer para guarnecer os postos de segurança e vigilância da Unidade Prisional. Isso para não falar da imoralidade de possibilitar que tragédias como as que ocorreram num passado não tão distante se repitam.

No mês de março circulou nas redes sociais uma denúncia que dava conta da reabertura da cantina em Bangu III, mesmo diante da proibição judicial. Um Termo de Referência sem nenhuma publicidade licitava emergencialmente a cantina. Diante do descaso do governo, e as condições que são geridas as unidades prisionais fluminenses, a instalação de “Refeitórios Humanizados” em estabelecimentos prisionais de Comando Vermelho,  importam no mesmo risco à Segurança, e em grau ainda maior que a cantina proibida da Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho.

O retorno de cozinha na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho amplia as brechas para o trânsito de armamentos e materiais ilícitos na Unidade Prisional, considerando que inexiste estrutura capaz de verificar cada tonelada de alimento, produto de limpeza e outros insumos necessários para o funcionamento de um espaço destinado ao descongelamento e aquecimento de milhares de refeições diárias. Diante de um “prêmio” como esse, em detrimento da segurança e das condições de trabalho dos policiais penais, o modelo do projeto proposto reforça a indisciplina e o fortalecimento das facções dentro dos presídios.

O então juiz da Vara de Execuções Penais, Eduardo Oberg, proibiu a instalação de qualquer cantina em Bangu III sem a autorização da Justiça. À época, o magistrado destacou que a cantina está fechada desde a grande rebelião de 2003, quando foram encontradas armas e drogas, que entravam no presídio pelo estabelecimento.

Palio do tenente-coronel Lourenço: metralhado em plena Avenida Brasil

Foto: Jadson Marques/Agência O Dia

 

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