Entre a retórica e a prática: os policiais penais não aceitam retrocesso

Temos muitos bons policiais penais, mas sempre são escolhidos os mesmos. Por que???

Mais uma vez, a categoria de Policiais Penais é vítima de exposição negativa e sensacionalista de mídias, em decorrência do comando da instituição que administra o Sistema Penitenciário Fluminense. Desde a sua criação, em 2003, foram vários secretários e subsecretários presos e/ou envolvidos com a Justiça.

Depois desse terremoto que abalou a estrutura do governo de Cláudio Castro, a terra continuará a tremer na SEAP. Primeiro, porque os policiais penais não aceitam a indicação de policiais de outras instituições no comando da pasta. Segundo, porque foram mantidas  nomeações às quais a categoria não concorda. Conforme noticiou em sua coluna o jornalista Cláudio Magnavita, nesse domingo (22/08): “um dos sinais de que a vida de Poubel não seria fácil estava na lista de nomeados que ficou travada na análise de Compliance. Ninguém seria nomeado sem pente-fino. Alguns nomes que fizeram parte da lista iriam incendiar os policiais penais”.

Ambas situações deixaram a categoria em estado de ebulição. Ou melhor, ela continua nesse estado. Os policiais penais não aceitam o retorno de alguns nomes que serviram na gestão do Cel. PM Alexandre Azevedo, que teve denúncias de corrupção em vários setores da SEAP, inclusive nos setores que esses servidores foram novamente nomeados.

O secretário Fernando Veloso concedeu uma entrevista, no último sábado dia 21/08, ao Jornal Extra, logo após ser nomeado no lugar do delegado de Polícia Federal Victor Poubel, que durou apenas 4 dias à frente da pasta.

Em seu discurso, Veloso disse que vai valorizar os bons servidores. “Eu me comprometi com a missão de reestruturar o sistema penitenciário fluminense, valorizando os bons servidores da casa, que cumprem seu papel com dignidade. Os valores norteadores da nossa gestão serão: competência, integridade e respeito”.

Não demorará muito tempo para sabermos se o discurso de Veloso é mera retórica ou fato. Principalmente, depois da confirmação dos nomes que comporão o seu staff no comando da Secretaria. Durante toda a semana a categoria repeliu o retorno de pessoas que já fizeram parte de gestões passadas. No Sistema Penitenciário ninguém passa despercebido. Os Policiais Penais esperam e querem que haja mudança na Seap, mas não tolerarão hipocrisia, que é pior que a mentira, pois é uma mentira disfarçada.

O novo secretário da Seap foi chefe da Polícia Civil nos governos de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Ele assumiu o comando da PCERJ em fevereiro de 2014, e saiu em outubro de 2016, dias antes da prisão de Sergio Cabral. Antes disso, atuou na gestão do delegado da PF José Mariano Beltrame, na Secretaria de Segurança Pública. Delegado de Polícia Civil, Veloso foi candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro, na chapa de Luiz Lima, em outubro de 2020.

Na entrevista de posse, Veloso mandou recado à categoria: “Trago minha experiência de 20 anos de serviço público para contribuir com a consolidação dos policiais penais para o sistema de Segurança Pública. Policiais penais, contem com o seu secretário!”, disse. A categoria, no entanto, recebe com desconfiança a notícia de mais uma nomeação ao comando da pasta por uma pessoa estranha ao quadro de policiais penais, que repete esse discurso de valorização e respeito, como um mantra, quando na verdade se serve do cargo e nomeações para robustecer seu contracheque, além de garantir espaços para amigos que, provavelmente, o apoiarão numa eleição futura.

O Rio de Janeiro vem, desde muito, com toda sua estrutura de poder carcomido pela corrupção. É inconcebível que, uma pessoa a qual esteve à frente de instituição da importância como a Polícia Civil, não diferencie o grito de uma categoria que, exposta ao ridículo pela corrupção de alguns, também, vê- se no direito de cobrar do novo secretário uma gestão proba. Mas, para isso, terá que afastar-se de pessoas com suspeita de malversação de recursos na PCERJ, além de outras que somente vestem a camisa de Policiais Penais, pois indicados e preocupados em gerir a máquina, para deleite dessa corrupção que do meio pra cima é cinicamente escamoteada.

Como o sistema penitenciário é um triturador de reputação, e não deixa nada encoberto, vai uma frase de William Shakespeare muito oportuna para o momento: “Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são”. Os policiais penais não suportam mais serem enganados nesse jogo de poder, dinheiro e corrupção.

 

O delegado de Polícia Federal, Victor Poubel, durou quatro dias à frente da Administração Penitenciária. O governador Cláudio Castro acatou a recomendação do Ministério Público Federal de rever a nomeação dele para o comando da pasta. Também deveria rever a nomeação do delegado de Polícia Civil Fernando Veloso. Basta de estranhos na Seap!!!

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