Na foto, a Secretária de Administração Penitenciária RJ Maria Rosa Lo Duca Nebel e o Subsecretário de Administração Alexander Maia.
Em 03 de agosto de 2023, a Secretária de Estado de Administração Penitenciária, inspetora de Polícia Penal Maria Rosa Lo Duca Nebel, interpôs Ação Judicial (Processo nº 0903038-84.2023.8.19.0001) contra o Sindicato da categoria à qual faz parte e diz vestir a camisa. Ao que parece, para tentar intimidar a representação sindical que vem publicando diversas denúncias sobre as omissões da secretária e as contratações inservíveis do subsecretário de Administração Alexander de Carvalho Maia, que não é Policial Penal e desconhece as reais necessidades e operacionalidade do Sistema Penitenciário, traduzindo-se em prejuízos aos policiais penais, bem como aos familiares dos servidores.
A justificativa apresentada por Maria Rosa para a Ação Judicial seria um suposto “intuito difamatório” na matéria publicada pela instituição sindical, sob o título “Conivência da secretária de Administração Penitenciária com projeto milionário colocará em risco policiais penais”. Segundo Maria Rosa, “relacionar o projeto das “Cozinhas Humanizadas” com o risco à integridade física dos policiais penais’, teria a intenção de criminalizar a atuação dela como Secretária da pasta. Maria Rosa também contesta o relato, na reportagem, de que a afirmação de que os presos do Rio produzirão suas próprias refeições é falsa.
“A Crítica é direcionada à gestão da Seap e não à pessoa Maria Rosa”, asseverou Bruno Costa, advogado responsável pelo Departamento Jurídico do Sindicato, ao contestar a alegação de abuso do direito de liberdade de expressão e suposta ocorrência de danos morais.
Na Ação, o pedido complementado aduz que: “a imagem da autora com um cifrão ao seu lado, viola o seu direito e causa danos, ainda que exclusivamente moral”. Como reparação Maria Rosa pediu a antecipação de tutela para a retirada imediata da matéria do Site do Sindicato, do perfil oficial do Instagram e de qualquer outra rede social, além do pagamento de indenização a título de dano moral, no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).
Na análise do juiz não foi vislumbrado motivo, tampouco inverdade que justifique a retirada da matéria do Site. Tanto que a sentença foi tão somente a retirada do cifrão da imagem da secretária Maria Rosa e do subsecretário Alexander Maia, após o trânsito em julgado. E o pagamento da quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de danos morais em razão do cifrão na imagem. No entanto, os julgados não são definitivos e podem ser revistos pela Instância Superior, o que significa dizer que o processo não terminou e a via recursal está aberta.
Difamação na informação prestada pelo Sindicato?
A matéria, objeto da Ação Judicial (Processo nº 0903038-84.2023.8.19.0001), informa sobre a conivência da secretária Maria Rosa com um projeto inviável de “Cozinha Humanizada” que provoca risco à vida dos servidores que trabalham nas Unidades Prisionais do Estado. Principalmente, pela falta de efetivo funcional conforme alertado pelo subsecretário de Gestão Operacional da Seap e desaprovado pela Procuradoria Geral do Estado, dada às inúmeras irregularidades do projeto.
Bruno Boquimpani Silva, Procurador-Chefe da Coordenadoria do Sistema Jurídico da PGE/PG-15, do Estado do Rio de Janeiro, emitiu visto divergindo sobre a viabilidade de prosseguimento da licitação para contratação de serviços para a construção de 20 (vinte) prédios do Projeto “Cozinhas Humanizadas” da Seap. Além de desaprovar o Parecer nº. 252/2023/SEAP/ASSJUR/DT (56141113), emitido pela Procuradora do Estado, Danielle Tufani Alonso, no Processo SEI-210045/000566/2022.
Maria Rosa Lo Duca reclama “de um tom difamatório e inverídico na matéria”. No entanto, a fonte da notícia são os documentos acostados ao SEI de origem do processo de contratação para a obra das chamadas “Cozinhas Humanizadas”. O evidente perigo da implementação desse projeto está descrito nos despachos do subsecretário de Gestão Operacional, Rogerio Ferreira da Rocha, que reitera sua preocupação em relação à Segurança e Operacionalidade das Unidades Prisionais e a dificuldade de implementação de projeto, devido à falta de efetivo de Policiais Penais para o atendimento da demanda sem que isso afete a rotina de segurança da unidade prisional.
Ignorando a falta de efetivo funcional, os riscos de fragilização da Segurança das Unidades Prisionais e dos servidores, a secretária Maria Rosa AUTORIZOU (ao encargo da futura empresa contratada) a execução do Projeto Executivo, concomitantemente à execução da obra milionária, com base “unicamente no critério técnico de viabilidade arquitetônica de implantação”. Daí a afirmação da matéria sobre a conivência da secretária com o projeto que levará riscos aos policiais penais, e consequentemente, a todo o sistema penitenciário.
Ao contrário da fala da secretária Maria Rosa Lo Duca Nebel, de que a iniciativa objetiva possibilitar que os presos trabalhem e tenham uma atividade, quiçá uma profissão, para produzir a própria alimentação, a verdade (antes oculta) é revelada nos documentos acostados ao projeto, uma vez que a comida não será produzida nas cozinhas a serem construídas, mas chegarão congeladas às unidades e passarão por processo de “regeneração” para “parecer fresca”.
Ou seja, apesar da justificativa do projeto, de que a implantação do modelo substituiria o alto custo contratual de serviços contínuos no fornecimento da alimentação, o preparo das refeições nas dependências da cozinha foi suprimido do projeto, a título de economia do tempo da obra. Desse modo, o esquema vai manter o recebimento de refeições de empresas contratadas.
Destaque-se que a informação veiculada pelo Sindicato de que os presos do Rio NÃO produzirão suas próprias refeições foi extraída do documento de formalização da demanda (index 43539564), que assim aduz: “Ante a necessidade de segurança da unidade prisional também foram avaliados a possibilidade de adaptar o formato de serviço de alimentação nas unidades, então decidiu suprimir o preparo das refeições nas dependências da cozinha, reduzindo a demanda de construções complexas e equipagem de cozinhas industriais e reduzindo o dispêndio de tempo para conclusão do processo”. A informação é reiterada no Projeto Básico (index 54433088), restando claro que na dezena de cozinhas a serem construídas não será produzida nenhuma refeição.
Nota-se que o projeto das “Cozinhas Humanizadas” não visa atender as reais necessidades do Sistema Penitenciário. Ao contrário, parece ser uma mera substituição do projeto de “Presídios Verticais” para atender interesses privados, inclusive com valores muito semelhantes, já que este teria custo de cerca de R$ 80.000.000,00 (oitenta milhões de reais). Não é por outra razão que existe construção abandonada no Complexo Penitenciário de Gericinó onde grande parte de recursos públicos foram desperdiçados. Infelizmente é o que se vislumbra num malfadado projeto dessa natureza, ainda que o nome seja sugestivo “Projeto COZINHAS HUMANIZADAS – COOK AND CHILL”.
A Secretária Maria Rosa confunde o direito de crítica com difamação e deve desconhecer que o símbolo do cifrão significa poder, dinheiro, ganância, ou até mesmo desperdício de dinheiro público, nesse caso na gestão da coisa pública. Já o subsecretário de Administração, Alexander Maia veio indicado para gerir os recursos da Seap e priorizou, por sua conta e conveniência, a compra de mais 300 (trezentos) laptops, contratou viaturas inservíveis à premente necessidade operacional da Secretaria, demonstrou o desconhecimento da proibição de instalação de cantina na Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, à qual autorizou a instalação ensejando grande repercussão negativa, logo sendo cancelada.
Além de tudo isso, Alexander Maia comprou 52 (cinquenta e duas) Pick-ups com cela adaptada para 04 (quatro) presos, sem ventilação adequada e altura entre o teto e o banco que obriga o apenado a viajar praticamente de cócoras, ao custo informado de R$ 17.680.000,00 (Dezessete milhões, seiscentos e oitenta mil reais). Embora conste liberação de recursos na ordem de 30 milhões, dedicados à aquisição de novas viaturas para transporte dos presos no cumprimento de pautas de apresentação em juízo (SEI-210121/000046/2023, index 50967172).
Entre outros desmandos, sem nenhuma efetividade, o subsecretário de Administração contratou empresa de oficina mecânica, para manutenção preventiva, preditiva e corretiva, com prestação de serviço e fornecimento de peças para veículos da SEAP (CREDENCIAMENTO), no valor de R$ 2.255.884,80 (Dois milhões, duzentos e cinquenta e cinco mil, oitocentos e oitenta e quatro reais e oitenta centavos), reservado no orçamento de 2023. No entanto, as viaturas seguem sem a manutenção adequada, a exemplo da VTR do SOE abandonada num Posto da Polícia Rodoviária Federal em Campos;
Alexander adquiriu bebedouros e máquinas de fabricar gelo no valor reservado de R$ 2.400.212,52 (Dois milhões, quatrocentos mil, duzentos e doze reais e cinquenta e dois centavos); Tem previsão de reserva orçamentária no valor de R$ 1.771.000,00 (Um milhão, setecentos e setenta e um mil reais), para a aquisição de 05 (cinco) veículos tipo pick-up adaptadas para transporte de cães, enquanto o Processo SEI-210045/000474/2023, inaugurado em 11/09/2023, para locação de Vans destinadas ao transporte de servidores das Unidades Prisionais de Campos, Resende, Itaperuna e Volta Redonda, com contrato publicado no DOERJ de 07/12/2023, e previsão de chegada em 09/02/2024, teve em seu mais recente movimento, em 10/01/2024, a anexação de Nota de Empenho de Anulação. E os servidores continuam se arriscando em transporte fornecido pela Seap, sem manutenção e sem condições de trafegar, sem Ar-Condicionado, para-brisa trincado, sem espelho retrovisor, pneus e bancos desgastados, entre outras deficiências.
Há, também, a previsão de Contratação de empresa para elaboração de projeto de Plano de Prevenção e Combate a Incêndio – PPCI – Unidades Prisionais e hospitais da SEAP, no valor reservado de R$ 8.157.058,10 (oito milhões, cento e cinquenta e sete mil e cinquenta e oito reais e dez centavos); Previsão de contratação de empresa para prestação de serviço de natureza continuada de vigilância patrimonial desarmada nas dependências da sede da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária – SEAP/RJ, ao valor previsto de R$ 2.934.504,00 (Dois milhões, novecentos e trinta e quatro mil, quinhentos e quatro reais); E, ainda mantém a alimentação dos policiais penais vinculadas à licitação da alimentação dos presos, bem como a proposta indecente de utilização do lucro com as Cestas de Custódia para o desarranchamento dos policiais penais.
Por tudo isso, resta claro que depreender que alguém é subserviente não implica em difamação, mas sim, que determinadas pessoas focam em se manterem no cargo, independente de eficiência da gestão pública.
PAPEL FISCALIZADOR
Entidade Sindical com mais de 60 anos de história de luta na defesa da categoria de Policiais Penais do RJ, o SindSistema Penal RJ possui legitimidade constitucional para defender os direitos e interesses coletivos ou individuais de sua categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas, conforme a Carta Sindical que lhe foi conferida pelo Poder Público.
Nessa seara, o Sindicato exerce a fiscalização da gestão da Secretária Maria Rosa Lo Duca Nebel sobre todas as questões que afetem as vidas dos profissionais do Sistema Penitenciário. Inclusive em relação aos direitos trabalhistas estatutários, à vida funcional e à segurança da categoria em razão do exercício de atividade de risco.
INSISTÊNCIA
O Processo (SEI-210045/000566/2022) de contratação de empresa para a construção dos refeitórios e “Cozinhas Humanizadas” prossegue. A execução do projeto em paredes de painel de aço galvanizado, e cobertura em estrutura metálica de aço galvanizado, que previa um custo de R$ 78.885.401,10 (setenta e oito milhões, oitocentos e oitenta e cinco mil, quatrocentos e um reais e dez centavos), foi atualizado para R$ 125.035.088,38 (Cento e vinte e cinco milhões, trinta e cinco mil, oitenta e oito reais e trinta e oito centavos), conforme resumo apresentado pela Superintendência de Engenharia e Arquitetura da Seap, em 05/12/2023.
A decisão da Secretária Maria Rosa, de autorizar uma obra (agora) de mais de 125 milhões de reais, em um projeto inviável à segurança dos Policiais Penais do RJ, nas condições precárias do Sistema Penitenciário do RJ, sem condições de operacionalidade, é mais do que justificativa para a veiculação da notícia, ainda mais pela Entidade Sindical da própria categoria.
HISTÓRICO
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do RJ (SEAP/RJ), como estrutura do Governo do Estado, vem desde muito tempo envolvida com escândalos de ex-subsecretários e a atual Secretária há muito tempo transita nas instâncias de poder dentro do Executivo Estadual, inclusive com gestores os quais trabalhou, envolvidos em escândalos de corrupção em contratos, principalmente de alimentação, tendo em vista que tais contratos consubstanciam grande parte do orçamento da SEAP/RJ.
Maria Rosa Lo Duca foi Chefe de Gabinete na gestão do ex-secretário Astério Pereira dos Santos (Jan/2003 a Dez/2006), preso na Operação Titereiro, onde segundo o Ministério Público Federal, foram beneficiadas as empresas Denjud e JB Alimentação em contratos com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP/RJ). O valor da propina chegava a 15% do que cada empresa recebia, segundo a denúncia.
Maria Rosa Lo Duca exerceu a função de Diretora de Produção e Comercialização na Fundação Santa Cabrini, vinculada à SEAP/RJ, à época da gestão do ex-secretário coronel PM Cesar Rubens Monteiro de Carvalho (Jan/2007 a Març/15), preso na Operação Pão Nosso, acusado de integrar um esquema de propina no fornecimento de alimentos para os mais de 50 mil presos fluminenses. De acordo com o MPF, o então secretário estadual de Administração penitenciária recebia suborno para comprar quentinhas em regime de urgência, sem licitação, das empresas.
Maria Rosa Lo Duca também exerceu a função de Chefia de Gabinete do ex-secretário Coronel PM Alexandre Azevedo (Jan/2019 a Out/2020), exonerado em decorrência da prisão de seu subsecretário de Administração, Rafael Rodrigues Andrade, por corrupção nos contratos de alimentação da Seap. Mesmo período em que a pandemia de Coronavírus vitimou 22 (vinte e dois) policiais penais, a Seap não renovou o contrato de Seguro de Vida de seus servidores, e não paga o Benefício Indenizatório até hoje sob o comando da secretária Maria Rosa Lo Duca Nebel.
Av. Treze de Maio, n°. 13 – sala 709 Cinelândia, Rio de Janeiro
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